*Por Antoninho Rossini – Jornalista e Escritor
O país onde quase 70% de seus habitantes, sem distinção de credo, sexo, raça e nível social são apaixonados, especialmente pelo futebol, passou a ser visto por grandes conglomerados empresariais do chamado iGaming (apostas via online) como campo aberto para ser explorado. Pesquisas indicam que o Brasil tem um dos maiores potenciais de crescimento do mundo em termos de apostas online. Justamente por esse motivo o iGaming está atropelando o mercado à olhos vistos – basta ligar a televisão e assistir a comerciais, chamadas sobre dia, hora e local dos jogos, além de patrocínios de horários nobres para perceber a enxurrada de “convites” aos apostadores viciados ou não, cederem à tentação de ganhar dinheiro fácil. Até craques da bola descobriram nova fonte de receita fora do campo. Muitos deles se transformaram em garoto propaganda da jogatina online.
Paralelamente, de forma bizarra e patética, os chamados jogos de azar, proibidos por lei desde os anos de 1940, como jogo do bicho, carteado e bingo estão perdendo espaço – já não se tem tanta notícia de fechamento de cassinos clandestinos e bancas de “cambistas” sendo autuados por contravenção penal com tanta frequência. Neste caso, parece que essas modalidades perderam para os jogos online ( ou se juntaram a eles !), cuja regulamentação precária, por conveniência ou não, continuam crescendo de forma exponencial. Sobre os “iGames”, diferentemente do jogo do bicho, não necessitam das banquinhas dissimuladas nas portas de botecos ou nas esquinas, com os cambistas juntando palpites em papeletas de apostas. Hoje em dia, no entanto, os apostadores viciados e outros potenciais usuários desses serviços poderão fazer apostas a partir da sua sala de televisão, no conforto do seu lar, tendo à mão um computador, com senhas e logins dotados com mais segurança do que os dos próprios bancos, para proteger seus clientes.
Vale ressaltar ainda que as grandes operadoras do “iGames” têm suas sedes no exterior como Gibraltar, Malta, Chicago e Suécia. Borderôs, entregas dos prêmios a ganhadores, recolhimento de impostos e outras informações permanecem como segredo de estado. O fato é que sem um marco regulatório, o Brasil está ficando para traz em relação a outros países que perceberam as vantagens para gerar receitas originadas pelas apostas online. Se levarmos em conta as jogatinas oficiais, então, como loterias estaduais, Federal e suas variações, sempre voltadas aos esportes, a situação torna-se mais emblemática ainda.
Positivamente, estamos num país que se transformou num grande e democrático cassino. Não é de se duvidar que muitos “cartolas” estão por dentro de tudo e atentos para tomarem o seu quinhão nessa jogada esportiva online. Perguntas inocentes: será que com essa poderosa máquina de negócio em ação, envolvendo tanto dinheiro, as partidas disputadas apresentam resultados compatíveis com as qualidades de cada time e sem manipulação? E você torcedor, acredita mesmo no jogo jogado?