Uma pesquisa da Universidade de Georgetown revelou que o jornalismo é a carreira com maior índice de arrependimento entre os formados nos Estados Unidos, com 87% dos graduados afirmando que, se pudessem, escolheriam outra profissão.
O dado acende um alerta não apenas nos EUA, mas também sobre os caminhos que o jornalismo vem trilhando no Brasil, onde o desgaste da categoria avança de maneira perceptível em diversas frentes.
Nas redações do país, o dia a dia tem exigido um conjunto ampliado de competências, com alta demanda e equipes reduzidas. Profissionais acumulam funções que envolvem apuração, edição, publicação e gestão de conteúdo em redes sociais.
Segundo o jornalista Adriano Santos, sócio da Tamer Comunicação, o cenário afeta diretamente a permanência dos profissionais na área. “Hoje, espera-se que um único jornalista atue em múltiplas frentes, muitas vezes sem suporte técnico e financeiro”, diz.
A digitalização do trabalho jornalístico aumentou a velocidade de produção e alterou os critérios de desempenho. Métricas como visualizações, curtidas e compartilhamentos passaram a influenciar diretamente as decisões editoriais.
Em diversas redações, um mesmo profissional é responsável por produzir e distribuir o conteúdo, com pouco tempo para planejamento. “Não é raro que uma mesma pessoa escreva, edite, publique e ainda interaja com o público nas redes sociais”, afirma Santos.
A exposição pública e os ataques à imprensa também fazem parte dos desafios enfrentados por quem atua na área. Nos últimos anos, jornalistas têm sido alvo de campanhas de desinformação e questionamentos à credibilidade, especialmente nas plataformas digitais.
O ambiente afeta a rotina de trabalho e o relacionamento com o público. “A profissão perdeu espaço e prestígio, mas o papel social do jornalismo continua essencial”, diz o jornalista. O impacto da desconfiança é sentido especialmente por profissionais iniciantes e aqueles que atuam em coberturas políticas ou investigativas.
Mesmo diante dos desafios, profissionais seguem atuando em diferentes frentes, inclusive fora das redações tradicionais. A formação jornalística tem sido aplicada em áreas como comunicação institucional, análise de dados e produção de conteúdo estratégico. Para Santos, há espaço para adaptação. “O jornalismo ainda é fundamental para o debate público e para a construção de uma sociedade crítica. O que falta não é vocação, é estrutura.”
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