O mercado de comunicação e marketing sempre foi um espaço onde criatividade e inovação ditam as regras do jogo. No entanto, quando o assunto é diversidade de gênero, ainda há um longo caminho a percorrer. Mesmo sendo um setor repleto de profissionais talentosas, a equidade de oportunidades entre homens e mulheres ainda não é uma realidade consolidada.
Segundo um levantamento da Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação), publicado em maio de 2024, as empresas do setor empregam 14.216 profissionais no Brasil, sendo 62,4% mulheres e 37,6% homens. Apesar dessa predominância feminina, a presença de mulheres em cargos de liderança ainda é desproporcional. O cenário se repete globalmente: de acordo com a 8ª edição da pesquisa Women in the Boardroom, realizada pela Deloitte, apenas 6% dos CEOs no mundo são mulheres.
Por outro lado, a presença feminina nos conselhos de administração tem avançado. Segundo a mesma pesquisa, mulheres ocupam 23,3% dos assentos em conselhos ao redor do mundo, um crescimento de 3,6% em relação a 2022. Embora esse avanço seja positivo, ainda está longe de refletir a participação real das mulheres no mercado de trabalho.
Para Aline Hasse, sócia e Head de Estratégia e Negócios da MEMO – agência full service de marketing e comunicação –, essa desigualdade vai além da presença numérica feminina no setor: trata-se de garantir que as mulheres tenham voz, sejam reconhecidas e possam crescer profissionalmente sem barreiras invisíveis.
“Um dos maiores desafios para as mulheres na comunicação é a síndrome da impostora. Mesmo em cargos de liderança, muitas ainda questionam sua própria competência, um reflexo de uma cultura que historicamente impõe padrões mais rígidos. A insegurança não vem apenas da autocrítica, mas também do ambiente, que muitas vezes cobra mais das mulheres e oferece menos oportunidades de erro e aprendizado”, comenta Aline.
A questão da confiança é um dos fatores que impactam diretamente a progressão profissional feminina. Pesquisas mostram que, em geral, mulheres só se candidatam a uma vaga quando atendem a 100% dos requisitos, enquanto homens aplicam mesmo sem cumprir todos os critérios. Essa diferença não está ligada à competência, mas sim à forma como homens e mulheres são culturalmente ensinados a lidar com riscos e falhas.
Dentro das empresas, um comportamento recorrente observado por Aline é a chamada “Síndrome de Salomão” – quando mulheres evitam brilhar demais para não incomodar ou parecerem arrogantes. “Trabalhando em multinacionais, vi muitas mulheres brilhantes moldarem seu comportamento para se encaixar em ambientes ainda predominantemente masculinos. Mas inovação precisa de diversidade, e isso só acontece quando há espaço para diferentes vozes se expressarem com liberdade”, afirma.
Ao longo de sua trajetória, Aline encontrou espaços que permitiram sua criatividade florescer, como na ativação inovadora que integrou o lançamento de um trator na Agrishow ao universo do Strongest Man. “Quando há espaço para inovação e confiança no potencial criativo, as ideias ganham força e os resultados se multiplicam”, destaca.
Na MEMO, a equipe é formada por 50% de mulheres, com 57% ocupando posições de média e alta liderança – e o melhor: 70% delas são mães. “Criamos um ambiente onde talento e equilíbrio caminham juntos, permitindo que as mulheres cresçam, liderem e construam carreiras sólidas sem abrir mão de suas jornadas pessoais”, avalia a executiva.
Para ela, a falta de mulheres em cargos de decisão na comunicação não é apenas uma questão de representatividade, mas também um problema de desempenho. “Diversidade gera inovação. No setor de marketing e comunicação, onde contar histórias e criar conexões autênticas são essenciais, não podemos nos dar ao luxo de perder perspectivas femininas”, explica Aline.
A equidade de gênero exige medidas concretas, como programas de mentoria, políticas de inclusão e a ampliação da presença feminina na liderança. “As empresas precisam se comprometer com essa mudança. Precisamos de referências visíveis de sucesso feminino para que outras mulheres se sintam encorajadas a ocupar esses espaços. Quando uma mulher sobe, ela leva muitas outras junto com ela”, finaliza.