Brasília, 17 de Março de 2025 - 4:45

CASO VINI JR EXPÕE A PERVERSIDADE DO RACISMO EM PLENO SÉCULO XXI

*Por Antoninho Rossini – Jornalista e Escritor

Seria hipocrisia dizer que o racismo não existe. Em muitas partes, especialmente na Europa e EUA esse comportamento é observado com frequência, das formas mais grosseiras e trágicas. Os negros sempre foram tratados como seres inferiores, sem nenhuma justificativa que desse fé para tanto. A história está salpicada por esse estigma e, diga-se, de forma errática. Em pleno século XXI esse comportamento contra os afrodescendentes parece recrudescer e apontar para um horizonte tenebroso porque tornou-se agressivo – sem limites, intolerante e justamente no esporte, onde a humanidade sempre depositou esperança de ser o caminho da harmonia e da paz. Aliás, é bom lembrar que em fevereiro de 1969, o time do Santos Futebol Clube, tendo ainda Pelé vestindo a camisa 10, foi convidado para uma partida amistosa na África, que reunia craques da Nigéria e Biafra, dois países que se encontravam em guerra havia anos.

Os dois lados beligerantes assinaram um acordo de trégua de 24 horas para que a partida pudesse ser realizada. Reza os escritos da época que durante a partida os dois lados combatentes esqueceram suas desavenças, se uniram para assistir ao jogo (ou para aplaudir o Rei do Futebol !). Esse acontecimento foi registrado pela imprensa da época, inclusive alguns destacavam: “O dia em que Pelé parou uma guerra”. Esse negro, Rei do Futebol, foi um craque em tudo na vida. Por onde passou foi festejado e amado. Foi justamente nesse período que o Brasil passou a ser conhecido por muitas nações como um país, que além do samba e carnaval ainda tinha como filho, o Rei Pelé. O Rei Pelé funcionava melhor do que passaporte de brasileiros no exterior.

A última ocorrência envolvendo racismo que está escandalizando o mundo ocorreu recentemente na Espanha, envolvendo irônica e paradoxalmente o futebol, esporte que galvaniza o país. No futebol deveria imperar apenas o desabafo saudável de torcedores e seus times – em momentos de descontração. No epicentro dessa crise encontra-se o jogador brasileiro Vini Jr, que atua no Real Madri.

Trata-se de um craque de primeira linha, digno do time do qual veste a camisa. Mas não é bem assim que espanhóis torcedores de outros clubes concorrentes o enxergam. As hostilidades racistas, dentro e fora do campo empobrecem a espécie humana. Até dá a sensação de que o negro não pode ser feliz. Aliás, Vini Jr não é o primeiro craque brasileiro a ser agredido acintosamente por lá. Outros jogadores também já o foram. Para não citar tantos, ficamos nos exemplos de Daniel Alves e Antonio Carlos, dois jogadores que vestiram o uniforme do Brasil. Desta vez a sensação que se tem é que haverá atitudes drásticas a serem tomadas, além das registradas até agora. Alguns indigitados foram presos, outros ainda estão sendo identificados. Os movimentos populares e de autoridades públicas e dirigentes esportivos do mundo estão atentos ao que fará a Espanha. As manifestações contrárias aos atos racistas espanhóis estão mobilizando as nações. A Organização dos Estados Americanos (ONU) já formalizou seu protesto por meio do seu departamento de Direitos Humanos, tanto autoridades espanholas como as esportivas sobre a agressão – trata-se de uma atitude sem precedentes na história da entidade. O caso Vini Jr virou prioridade mundial. As autoridades espanholas – governamentais e esportivas – estão pressionadas a dar prova de rigidez no tratamento do assunto e acabar com esse racismo patológico. Acaso nenhuma atitude de forte impacto não for tomada, surgirá um rastro de insurreição passível de acontecer, inclusive em outros países. Atletas negros estão fartos de serem maltratados e humilhados – dinheiro é muito, mas não é tudo na vida. Modernas arenas e estádios, até modestos campos de futebol correm risco de não receberem jogos com a presença de grandes craques negros. Essa possibilidade ninguém ainda abordou com a devida atenção. Os jogadores afrodescendentes poderão criar um movimento e deixar de se apresentarem aos clubes promovendo uma espécie de greve-desagravo. Seria uma mácula pegajosa para a história da raça humana. Neste caso, os grandes perdedores, além dos jogadores, grandes patrocinadores e meios de comunicação, seríamos nós, admiradores do esporte. Quanto à causa racista, esta é condenável em qualquer circunstância.

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