A vida do povo andino, que dominou regiões sul-americanas durante séculos, está sendo descortinada no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília pela exposição Tesouros Ancestrais do Peru. O público poderá visitá-la gratuitamente na capital do país até o dia 11 de agosto. Sucesso no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, a exposição se traduz em uma viagem no tempo e um convite para o público conhecer de perto a história e cultura dessas antigas civilizações.
No total, os visitantes terão acesso a 162 peças datadas entre 900 a.C e 1600 d.C, a grande maioria em cerâmica, cobre, ouro, prata e têxteis. Os ingressos gratuitos podem ser retirados na bilheteria ou pelo site do CCBB (veja abaixo, ao fim deste artigo).
Divida por cinco blocos temáticos – Linha do Tempo, Mineração, Divindades e Rituais, Cerâmica e Têxteis e Colonização –, o conjunto raro de objetos descobertos em diversas expedições arqueológicas é reconhecido como patrimônio pelo Ministério da Cultura do Peru, e faz parte do catálogo do Museo Oro del Perú y Armas del Mundo. A mostra é patrocinada pelo Banco do Brasil e BB Asset Management, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A organização é da Arte A Produções.
Também conhecido como Tahuantinsuyo, ou “Terra de Quatro Regiões”, na língua quechua, o Império Inca foi a maior e mais importante reunião de culturas da América antiga. Com base em Cusco, sede política localizada no atual Peru, era formado por diversos povos e atingiu, em seu auge, cerca de 12 milhões de habitantes. Politeístas, os incas conseguiram, entre 1438 e 1532, unificar, seja pela força ou por alianças, sociedades da região costeira do Oceano Pacífico e da cordilheira dos Andes.
Espalhados por uma extensão de quase 4 mil quilômetros, que partia do sul da Colômbia e atingia partes do Chile e da Argentina, passando por todo o Equador, Peru e Bolívia, os povos da região tinham em comum o domínio de técnicas sofisticadas de administração, mineração, irrigação, agricultura, cerâmica, produção têxtil e arquitetura. O mais conhecido e visitado desses territórios é Machu Picchu, um dos poucos preservados desde a chegada dos europeus à porção sul do continente americano.
Na mostra, traços culturais dos povos andinos são revelados em utensílios como depiladores, bolsas, penachos, máscaras funerárias e coroas feitas de ouro. Há também módulos dedicados à cerâmica e aos objetos têxteis, como jaquetas, gorros e sapatos. No acervo estão ainda Tumis, espécies de facas ornamentais usadas durante cerimônias de sacrifícios de animais e, em casos excepcionais, de humanos.
“O desenvolvimento de todas essas culturas revela um acúmulo histórico notável de conhecimentos e a maestria em diversas técnicas e ofícios, refletidos na elegância e complexidade das peças apresentadas”, afirmam os curadores da exposição, Patricia Arana e Rodolfo de Athayde. “A habilidade na mineração e na confecção de objetos feitos de ouro, prata, cobre e outros minerais atinge um nível de sofisticação excepcional, mesmo nas civilizações mais antigas.”
Dez mil anos atrás
O primeiro bloco, Linha do Tempo, mostra os momentos-chave de mais de 10 mil anos de história andina, desde os primeiros habitantes (pescadores e caçadores) até o surgimento da agricultura de irrigação. Essa evolução permitiu que essas populações desenvolvessem um alto nível tecnológico, dedicando-se à produção cerâmica, à metalurgia e têxteis, alcançando um notável desenvolvimento cultural.
Já o segundo bloco, Mineração, aborda o domínio sobre os metais, o controle sobre o ambiente natural e, consequentemente, seu impacto nas dinâmicas das estruturas do poder. Trata-se de um aspecto fundamental do desenvolvimento dos povos que utilizavam ferramentas diversas para extrair e utilizar cobre, ouro e prata, produzindo objetos de notável elaboração.
Na área Divindades e Rituais é possível conhecer peças em ouro e prata, cerâmica e frisos de personagens divinos e semidivinos, que orientavam o sistema teocrático-militar operado a partir de complexas cosmovisões fundadoras das culturas andinas. Os metais eram usados para decorar edifícios, adornar corpos e vestes reais em rituais e oferendas funerárias. Um detalhe é que só as pessoas pertencentes à elite podiam usar ouro.
No quarto bloco, Cerâmicas e Têxteis, estão peças e informações sobre as técnicas utilizadas desde 1.800 a.C. para produção de barro moldado e cozido em fornalha. Essas técnicas permitiram uma produção intensa de utensílios usados também para expressar ideias e representar estilos de vida e tradições. Também é mostrada a importância da domesticação de animais como lhamas e alpacas para a produção têxtil e artística.
A seção Colonização trata da história da colonização do império Inca pelos espanhóis e a fundação do Vice-reinado do Peru. Esse bloco expositivo pretende mostrar a assimetria desse violento encontro de civilizações, que funda uma nova identidade sincrética e mestiça, sobre as ruínas do império Inca.
O percurso da exposição também conta com o Projeto Panaca que divulga, por meio de vídeos de desenhos animados, a história das culturas antigas do Peru. A série de filmes será exibida ao público e é parte do conteúdo educativo da mostra.
Elo entre gerações
A mostra conta com obras contemporâneas propondo um olhar que amplia a leitura do acervo, a fim de provocar uma visão crítica e reflexiva sobre a representatividade das peças.
O legado e o compromisso com a preservação de conhecimentos ancestrais afloram na cuidadosa réplica contemporânea do “Quipu de Nasca”, elaborada pelo arqueólogo Alejo Rojas. O instrumento também é tema na obra “Quipucamayoc”, de Alexandra Grau, uma recriação de quipus coloridos, que aludem a essas ferramentas de registros e contabilidade dos Incas. Os diferentes nós feitos nas cordas criam uma linguagem que guarda a história dessa cultura.
O videoarte “Técnicas de deformação plástica” de Bete Esteves e Beth Franco utiliza imagens das técnicas de mineração e trabalho nos metais para criar uma relação com os métodos violentos narrados pelos protagonistas.
Serviço
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Endereço: SCES Trecho 02 Lote 22 – Edif. Presidente Tancredo Neves – Setor de Clubes Especial Sul – Brasília – DF
Ingressos pelo site http://bb.com.br/cultura
Tesouros Ancestrais do Peru
Período | 28 de maio a 11 de agosto, das 09h às 21h (entrada nas galerias até 20h40)
Local | Galerias 2, 3 e 5
Classificação indicativa: livre
Entrada GRATUITA
Informações
Fone: (61) 3108-7600
Site/ bb.com.br/cultura