O Chacoalha, programa de debates produzido pela Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro) e veiculado no canal da entidade no YouTube, recebeu, na quarta-feira (04), Marianna Souza, presidente executiva da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro) e embaixadora do movimento FreeTheWork no Brasil, que falou sobre as perspectivas para o setor e como o mercado de produção audiovisual brasileiro tem sido afetado pela pandemia.
Marianna mostrou dados da Ancine que apontam a queda acentuada nas produções audiovisuais voltadas ao mercado publicitário, filmadas no Brasil e veiculadas em mídias tradicionais, como TV e Cinema. Em 2018, o órgão registrou 41.619 obras. Subiu 6% em 2019 para 44.495 obras e caiu 14% no ano passado para 38.281 peças. As produções brasileiras filmadas no exterior também sofreram forte queda, de 99 em 2019 para 32 em 2020.
"O ano de 2020 foi de muitas incertezas e desafios. Cerca de 48% das produtoras afiliadas à Apro tiveram, em média, entre 15 e 30 produções durante o ano, enquanto 56% tiveram projetos cancelados", afirmou Marianna. Ela conta ainda que o cenário da pandemia fez com que as produtoras passassem a arcar com o "custo covid", ou seja, os protocolos de triagem das equipes que não tinham como trabalhar em home office. Entretanto, mais de 38% das agências não conseguiram repassar esse custo aos clientes.
"Os principais gargalos da pandemia têm sido o achatamento do orçamento, a dificuldade de dividir responsabilidades e riscos, os cronogramas apertados e os prazos de pagamento", relatou Marianna. Mas destacou que as perspectivas são mais positivas agora: 77% das produtoras creem em recuperação parcial em 2021, conforme a vacinação avança na população.
Para Daniel Queiroz, presidente da Fenapro e anfitrião do Chacoalha, Marianna trouxe uma visão muito objetiva e clara do cenário do audiovisual. "Os gargalos são parecidos com as dificuldades enfrentadas pelas agências. E chama a atenção o fato de que o digital tem tido um peso enorme na demanda de obras audiovisuais, além do gargalo de preço e de prazo que este setor enfrenta", afirmou.
Marianna acha importante que haja o avanço para a regulamentação do digital no Brasil, nos moldes do que tem sido feito na Europa. "O Brasil está muito atrasado em não ter uma regulamentação para o digital, que representa mais de 50% do volume de trabalho das produtoras audiovisuais. É urgente, sim, uma regulamentação, mas o grande desafio é como fazer isso", opinou.
"A pandemia trouxe novas empresas que têm ofertado produções com preços e prazos surreais. Desconfiem de ofertas muito baratas e prazos curtos demais. A produção audiovisual exige conhecimento, técnicas e, consequentemente, profissionais preparados e bem remunerados para um produto final de qualidade. E, agora, durante a pandemia, há também o custo de saúde desses profissionais. Resumindo, não existe milagre. Temos que trabalhar com pessoas e empresas sérias, comprometidas com um trabalho sério e de qualidade", afirmou.
O programa Chacoalha com Marianna Souza pode ser revisto pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=v4bo8fQt2y4
