O Brasil possui hoje mais influenciadores digitais que engenheiros, arquitetos e dentistas, mas a profissão sequer existe, ao menos oficialmente. São 500 mil influenciadores no País com, no mínimo, 10 mil seguidores. Assim, o total de influenciadores supera a quantidade de engenheiros civis (455 mil), de dentistas (374 mil) e de arquitetos (212 mil), empatando com o número de médicos (520 mil).
Levando em conta os influencers com mais de 1.000 seguidores, o número salta para 20 milhões, o que equivale a 10% da população brasileira. Mesmo com esse mercado expressivo, a profissão ainda não é regulamentada. Uma pesquisa realizada pela Influency.me, empresa especializada em campanhas com influenciadores, questionou ao mercado se a regulamentação é vista como positiva.
A reposta revela um índice acima de 80% favoráveis à regulamentação da carreira. Participaram da pesquisa mais de 350 pessoas, contemplando todos os segmentos que atuam no marketing de influência.
Do ponto de vista das marcas, 92% delas acreditam que a regulamentação seja importante; 93% dos assessores dos influenciadores concordam com a afirmação; 80% dos influenciadores também enxergam que regulamentação seja um bom caminho; e 81% das agências compartilham da mesma opinião.
Casas de apostas
Com as recentes polêmicas envolvendo influenciadores divulgando casas de aposta e jogos de azar, o debate sobre os limites da influência reascendeu.
O Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) elaborou o Guia de Publicidade por Influenciadores Digitais, que traz orientações na hora de gravar publicidade. Nessa atividade, o influenciador acaba sendo caracterizado como um agente de publicidade, sujeito então à regulação aplicável, em especial do código do conselho.
“As orientações do Conar não têm força de lei, mas são instrumentos muito importantes para guiar os influenciadores na hora da gravação de conteúdo”, afirma o CEO da Influency.me, Rodrigo Azevedo. “Os limites já impostos por outras leis brasileiras também se aplicam aos influenciadores, como a necessidade de apresentar fatos verídicos, não agir de má fé e não divulgar produtos potencialmente prejudiciais à saúde”, diz Azevedo.
Uma pesquisa recente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) mostrou que 73% das pessoas físicas que realizaram o primeiro investimento tomaram essa decisão com base em informações de influenciadores. “Um consultor financeiro precisa ter credenciais específicas que o habilitem a trabalhar nessa área. Já os influenciadores não têm, o que abre espaço para conselhos nem sempre adequados serem difundidos”, afirma o CEO da Influency.me.
Para Azevedo, a regulamentação da profissão pode ser trabalhada nos próximos anos. “É importante que possíveis leis estejam alinhadas com o dia a dia do profissional para não cercear seu trabalho e, ao mesmo tempo, garantir a segurança física, emocional e financeira de quem segue esse influenciador“, diz. Segundo ele, a regulamentação da profissão no Brasil deve ser construída em conjunto com a sociedade.