Pela primeira vez em 61 anos o brasileiro vive a certeza de que não mais assistirá ao programa Silvio Santos ao vivo no domingo. O empresário e apresentador Senor Abravanel, conhecido pelo nome artístico de Silvio Santos, morreu em São Paulo neste sábado, 17 de agosto de 2024, aos 93 anos de idade, depois de passar décadas informando, entretendo e divertindo a população brasileira. Segundo o hospital Albert Einstein, o empresário morreu em decorrência de uma broncopneumonia.
Muitos que agora leem este texto conheceram a TV com Silvio Santos já dentro dela, seja no Domingo no Parque, Show de Calouros ou Qual é a Música?. Três gerações de cidadãos aprenderam que o domingo no Brasil tinha sempre três programações: o almoço em família, a missa das seis, e o programa Silvio Santos.
Faltam palavras, de fato, para descrever a incomparável importância de Senor Abravanel para a formação cultural de toda uma nação neste período. Pergunta sincera: quem nunca imitou Silvio Santos em algum momento da sua vida, seja brincando com um amigo, se apresentando no teatrinho da escola ou numa ligação por telefone?
Quem nunca repetiu bordões como “Quem quer dinheiro?”, “Você está certo disso?”, “Ma ôeeee!”, “Vem pra cá, vem pra cá”, “Sai pra lá, sai pra lá”, “Haha hihíii”, e tantas outras que preenchem o imaginário popular há tantos anos?
Qualquer descrição da relevância do comunicador para a formação cultural de massa no Brasil soa pequena e incompleta. Além da profusão de programas que ele lançava nacionalmente, muitos deles copiados da TV norte-americana, da qual era fã confesso, Silvio Santos apostou em filmes e seriados que eram desprezados pela Globo, como o Chaves, que se tornou um dos maiores fenômenos da televisão brasileira mesmo custando uma fração do valor que os concorrentes investiam em produções próprias. Isso deixava outros canais furiosos.
E pode-se reclamar de tudo, menos do bom humor do empresário ao lidar com seu público ao vivo. Era algo realmente genuíno, impossível de ser inventado, interpretado ou copiado. Ele ria tanto dos convidados celebridades quanto das subcelebridades, e ria mais ainda da plateia, dos homens e mulheres simples. Quando era surpreendido por um comentário inesperado, dos mais ingênuos, ele se esborrachava de rir. “Haha hihíii”, sempre com um sorriso largo, deixando aparente sua verdadeira alegria com aquele convívio e aprendizado.
Enfim, ele parecia se divertir o mesmo tanto que o seu público. Ou até mais. Daí o prazer e a longevidade ao manter o programa no ar durante seis décadas, passando por diferentes emissoras, até criar a sua própria casa no dial da televisão brasileira, a TVS, em 1976, transformada em SBT no ano de 1981.
Origem e trajetória
Silvio Santos iria completar 94 anos em 2024. Ele nasceu em 12 de dezembro de 1930, na Travessa Bemtevi, bairro da Lapa, na região central da cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil.
Seus pais chegaram ao Brasil seis anos antes, em 1924. O pai, Alberto Abravanel (1897–1976), eraimigrante judeu sefardita nascido na cidade de Tessalônica, atualmente localizada na Grécia, já a mãem Rebecca Caro (1907—1989), igualmente judia de origem sefardita, nasceu na cidade de Esmirna, hoje território da Turquia.
Silvio Santos serviu o exército, onde era considerado um recruta extremamente aplicado, formou-se como técnico em contabilidade e começou a ganhar dinheiro como camelô, vendendo capinhas para título de eleitor. Sua voz nas ruas chamou a atenção de um executivo que o chamou para trabalhar no rádio. Silvio hesitou, chegou a trabalhar como locutor, mas voltou para a atividade de camelô, que rendia mais dinheiro, isso na década de 1950.
Quis o destino, para a felicidade da nação brasileira, que ele considerasse uma segunda oportunidade no rádio, enquanto ele conciliava seu trabalho frente ao microfone com o empreendedorismo, ao administrar em sociedade com um alemão o Baú da Felicidade, inicialmente um negócio para vender brinquedos a prazo.
Trabalhando de domingo a domingo, demonstrando um talento nato para se comunicar, as portas foram se abrindo ao apresentador, tanto no showbusiness quanto no empreendedorismo.
O famoso programa Silvio Santos foi oficialmente ao ar pela primeira vez em 1963, há 61 anos, pela TV Paulista, que anos depois viria a ser a Rede Globo de São Paulo. O sucesso foi tamanho a ponto de bater a audiência do programa Jovem Guarda, com Roberto Carlos, na Rede Record.
Insatisfeito com algumas decisões da Globo, Silvio Santos decidiu deixar o canal em 1972, mas Roberto Marinho o convenceu a ficar.
O apresentador ficou, mas só até conseguir a concessão com o regime militar para ter sua própria emissora, um sonho alcançado em 1976, quando ele criou a TVS. Uma semana depois de deixar a Globo, o programa Silvio Santos começou a ser apresentado aos domingos na TVS, sendo modelado para incluir novos quadros, tornando-se o mais famoso programa de auditório de toda a história do entretenimento nacional.
Troféu
Desde o século XX, o Brasil viu florescer grandes empresários da comunicação, como Adolpho Bloch, Assis Chateaubriand com seus Diários Associados, e Roberto Marinho, criador do maior conglomerado de comunicação da América do Sul. Testemunhamos também a ascensão de gigantes na frente dos microfones e das câmeras, como Chacrinha, Gugu Liberato, Fausto Silva, Hebe Camargo, J. Silvestre e Flávio Cavalcanti, entre outros.
Mas na soma de todas as categorias, incluindo visão empresarial, capacidade empreendedora, carisma pessoal e magnetismo diante das massas, o título sempre pertencerá a Silvio Santos. Aliás, mais que um título, é o Troféu Imprensa, que ele mesmo criou, agora pertence ao Silvio por toda a eternidade. Ele irá habitar para sempre na memória dos brasileiros.
Descanse em paz, “ma ôee”!!